Vida, vida minha, longa… e lenta,
que pôs sobre meus ombros os oitenta.
Quão célere pareces ter passado!
Que fizemos, eu em ti, tu em mim,
que assinalar podemos neste fim?
Vida, vida minha, longa… e lenta,
que pôs sobre meus ombros os oitenta…
Porque me sinto hoje tão cansado
se tão de pressa tenhas te exaurido
sem que sequer eu tenha percebido?
Vida… vida minha… longa… lenta…
que pôs sobre meus ombros os oitenta…
Nada te fiz, mas tu fizeste a mim:
lançaste ao nada, morta, a minha amada
lançando-me, inda em vida, ao mesmo nada
Minha esposa faleceu em 2008 Set. 17 e, desde então, tenho tentado viver com as lembranças. Nem todas são boas, mas todas, excetuando-se as da infância, têm uma coisa em comum: centralizam-se em Zilah.
Fixar-me nas boas lembranças acaba por me levar a um doloroso saudosismo e se, ao contrário, prendo-me às coisas que me aborreciam, começo a me sentir ingrato.
Mas gratidão não é o que devo à Zilah, nem ela devia a mim.
Amor e respeito era o que abrigávamos um pelo outro e é o que ainda sinto.
Os cinquenta e dois anos de uma vida inteira em comum se passaram entre uma sístole e uma diástole, mas cada dia sem ela é feito de incontáveis sístoles e diástoles vãs…