O Trabalho

O

Do Trabalho

Quatorze ou quinze pessoas compunham a reunião de 05 de Julho de 1990 e o mote era o trabalho. Depois que alguns participantes do grupo expressaram suas opiniões em relação ao assunto o OW nos brindou com um aforismo:

“Não tem trabalho quem ama o trabalho que tem”.

Mas o dia não estava para apologias do trabalho ou encômios ao trabalhador porque a ideia era nos alertar para o engano em que caem os adoradores do ócio quando tentam se livrar de um trabalho considerado chato ou desagradável e, para tanto, criou uma sutil e delicada parábola.

Certo mago, muito conceituado por suas magias, com o louvável intento de transmitir seus conhecimentos, resolveu ensinar a sua poderosa arte a todos os que se interessassem. Afinal, pensava ele, não sou eterno e seria muito egoísmo de minha parte levar para o túmulo os segredos de como transformar pessoas em borboletas, em passarinhos, pombos, políticos, motoristas de taxis e outros.

Após um teste simples para avaliação, alunos e professor tiveram dias intensos durante os quatro anos de aulas e, agora, todos se lembravam com saudade das greves, da falta de verbas, das brigas por causa dos aumentos de mensalidades e se preparavam, com muito afinco, para as provas finais.

Todos estavam preocupados, principalmente o Fernando que no último ano, tal como nos anteriores, obteve médias não muito acima das alcançadas pelo último da classe, o Luiz. Nas provas daquele ano eles não tinham sido capazes de transformar em eleitores um bando de gatos que dormia nos telhados da escola e isso levou seus boletins ao vermelho.

Enfim o grande dia chegou e, enquanto caminhava para a escola, Fernando pensava: “E se eu não conseguir”? “E se, na hora, eu falhar”? Quanto mais se aproximava da escola mais aumentava seu medo.

“Eu não vou ser capaz”, choramingava ele já nos jardins do edifício, mas fugir não podia, pois, o professor o descobriria onde quer que fosse e, então, ele seria obrigado a ir para a sala de aulas e lá, se quisesse alcançar a formatura, deveria transformar aquele belo e esguio jaguar em um lerdo e feio burro puxador de carroças, mas como fugir do professor e evitar esse trabalho tão sem graça quanto trabalhoso? Já sei! Correu para debaixo de uma árvore, jogou os cadernos e livros para o alto, pulou, correu em torno da árvore, abriu alguns buracos na grama, deu novos pulos, nova corrida ao redor da árvore e, quando começou a bater com os pés no chão, conseguiu finalmente se transformar em coelho.

Soprando aquele sorrisinho quase maroto, o OW encerrou a estória com uma antítese do aforismo inicial dizendo: “Vejam vocês quanto trabalho têm os que não querem ter trabalho”!

Sobre o autor

Antonio Naddeo

Há 68 anos, em 1950 surgia o ator, moldado até então pelas máquinas em uma indústria de cartonagem. Aos 16 anos passa a ser moldado pelo palco, pelos scripts e por uma incansável vontade de aprender.

Por Antonio Naddeo

Categorias

Antonio Naddeo

Há 68 anos, em 1950 surgia o ator, moldado até então pelas máquinas em uma indústria de cartonagem. Aos 16 anos passa a ser moldado pelo palco, pelos scripts e por uma incansável vontade de aprender.