O Fazer Teatral

O

Já disse, alhures, que minha intenção, ao me aposentar e mudar-me para Florestal, era parar de fumar, plantar uma horta e escrever um livro. Parar de fumar parei, a horta ainda não plantei, mas o livro, em que falo sobre minhas experiências teatrais, já estava esboçado e uma das páginas de abertura, encontrada agora entre meus papeis antigos, está aí abaixo, à disposição de quem a queira ler.

COMO DEFINIR “O FAZER TEATRAL”?

Que termos utilizar para explicar um universo cujos limites, se é que existem, estão além do que há de mais podre ou de mais puro no ser humano?

Como explicar, tornando-o compreensível, um ser que se apropria de palavras, gestos e emoções alheias, estuda-os com dedicação sacerdotal, absorve-os e, anulando sua própria personalidade, sai, pelos palcos e telas do mundo, encantando e emocionando a todos os que o vêem?

E o que poderíamos dizer sobre essa arte tão antiga quanto a própria humanidade? Arte que deixou de ser efêmera porque, extremamente adaptável, ajustou-se aos meios eletrônicos e pode, hoje, ser fixada em toda a sua plenitude para alcançar, no espaço e no tempo, os aplausos e as glórias a que tiver direito.

Todavia, arrancar lágrimas, risos, aplausos e sobretudo fazer pensar, fim último a que se propõe o trabalhador teatral, não explica o fascínio que essa arte exerce sobre quantos a abraçam.

Inexplicável a volúpia provocada pelos odores, sons e cores dos camarins e da platéia. Impossível, também, dizer de onde vem a contraditória sensação de angustia e triunfo que envolve o ser teatral desde a abertura ao fechamento das cortinas, ou, ainda, definir a  mescla de alívio, prazer e saudade que o assalta ao final do trabalho.

Cada ser humano busca, na profissão que escolhe ou aceita, alem dos meios de subsistência, a forma de se expor como ser pensante e ativo. Mas o “Ser Teatral” vai mais longe. Expor-se é pouco. Ele almeja compartilhar, quer que o outro sinta e espera que as lágrimas e o riso sejam espontâneos e reais. Deseja veementemente compreender e ser compreendido, e isso já não pode mais ser entendido como meta ou objetivo. É uma forma de vida que o mantém suspenso entre o céu e o inferno. Lugar a que ele chega pela boca de cena, vive ao lado de santos e demônios e de onde sai, pelos portões da eternidade, envolto em  glórias, se merecidas, ou encoberto com o nácar do ostracismo.

Portanto, enquanto os “portões da eternidade” não se abrirem para nos, falemos de teatro, pois, ainda que defini-lo seja difícil, falar dele ou fazê-lo é extremamente gratificante.

Obs. Este texto deverá ser colocado após o prefácio e antes da página de apresentação do livro sobre Teatro

Antonio Naddeo em BH aos três dias de maio de 1994

O Livro está pronto, mas ainda não foi editado. Nem sei se o será.

Sobre o autor

Antonio Naddeo

Há 68 anos, em 1950 surgia o ator, moldado até então pelas máquinas em uma indústria de cartonagem. Aos 16 anos passa a ser moldado pelo palco, pelos scripts e por uma incansável vontade de aprender.

Por Antonio Naddeo

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Antonio Naddeo

Há 68 anos, em 1950 surgia o ator, moldado até então pelas máquinas em uma indústria de cartonagem. Aos 16 anos passa a ser moldado pelo palco, pelos scripts e por uma incansável vontade de aprender.